Sem dúvida, as
Histórias em Quadrinhos (HQ) são um dos temas mais pops da atualidade e isso já
faz tempo. Dificilmente encontraremos alguém que nunca tenha lido ou ouvido
falar deste meio de entretenimento. Pode ser cômico, infantil, adulto, real ou
de ficção, qualquer tema serve de base para uma boa HQ. Há pouco mais de cem anos,
as Histórias em Quadrinhos começavam a fixar-se como uma das mais populares e
ricas formas de expressão, fascinando até hoje crianças, jovens, adultos e
idosos de todo planeta. Unindo imagens e textos, elas criam mundos encantados
ou expressam a realidade em que vivemos e nos transportam para todos os lugares
dessa galáxia ou do universo.
Mas como tudo
isso começou? O que são e onde foi inventada as Histórias em Quadrinhos? Antes
de tudo, quero deixar claro que este artigo não tem a intenção de servir de referência histórica, mas de contextualizar a
história das HQs apontando alguns pontos relevantes na sua definição e na sua
trajetória ao longo dos anos.
As Histórias em
Quadrinhos também são conhecidas pela abreviação HQs, Quadrinhos, Gibi (me
perdoem os rebeldes) ou Graphic Novels — termo criado pelo quadrinista Will
Eisner (1917-2005) para designar publicações com edição especial e tratamento
de luxo. Mas também já foram chamadas de Literatura em Estampas e de Romances
Caricaturados, e não faz muito tempo que elas foram consideradas uma leitura
pouco valiosa e temia-se ainda que, ao ler suas histórias, as pessoas acabassem
por perder o gosto pela leitura de outras obras.
Os Quadrinhos
surgiram na primeira metade do século XIX. O lugar exato ainda é impreciso, mas
alguns afirmam que foi no Japão, por volta de 1814, quando Katsushika
Hokusai publicou Hokusai Mangá (imagem 01). Já outros dizem que foi em
1827, na Suíça, quando Rudolph Töpffe publicou M. Vieux-Bois (imagem
02), que são histórias em que os desenhos eram acompanhados de uma ou
duas linhas de texto. Ou talvez muito antes disso, se analisarmos as pinturas
rupestres nas cavernas, as decorações das pirâmides egípcias, astecas e maias, as
paredes dos templos gregos e a arte de vários povos primitivos.
Imagem 01 - Hokusai Mangá, criado por Katsushika
Hokusai
Fonte da imagem: http://radioblast.com.br/post/o-primeiro-mang-do-mundo
|
Imagem 02 - M. Vieux-Bois, de Rudolph Töpffer
Fonte da imagem: http://konkykru.com/e.toepffer.vieuxbois.1839.html |
No entanto, foi
a tira de jornal Yellow Kid (imagem 03), impresso no ano de
1895 no Jornal World de Nova York, o primeiro quadrinho a ser publicado no
formato como o conhecemos hoje.
Imagem 03 - Yellow Kid publicado em 1895
Fonte da imagem:
https://cartoons.osu.edu/digital_albums/yellowkid/1897/1897.htm |
Por serem de fácil leitura, as HQs nem sempre
tiveram o respeito da sociedade durante o século XX, principalmente nos anos
40, 50 e parte dos anos 60. Foi nesse período que a leitura de Histórias em
Quadrinhos foi acusada de estimular a preguiça mental e incitar os jovens à
violência e a homossexualidade, e ainda foram associadas a uma parcela da
população de baixo nível cultural e de capacidade intelectual limitada — o que principalmente
contribuiu para esta visão sobre os Quadrinhos foi o fato de que alguns autores
só produziam histórias com conteúdo descartável e com violência gratuita. Em
resposta, as editoras uniram-se voluntariamente e criaram o Comics Code Authority,
o Código de Ética para as Histórias em Quadrinhos (imagem 04).
O órgão visava regulamentar as publicações lidas pelos jovens leitores
americanos.
Imagem 04 - Comics Code Authority
Fonte imagem:
http://dc.wikia.com/wiki/Comics_Code_Authority |
As Histórias em Quadrinhos também são chamadas
de Arte Sequencial (outra denominação de Will Eisner), e isso quer dizer que são
narrativas gráfico-visuais. Elas possuem particularidades partindo do
agenciamento mínimo de duas imagens, havendo entre elas um corte, também
chamado de corte gráfico, onde se marca o impulso narrativo (que pode ser espacial
ou temporal). E se o roteiro for bem escrito, a passagem de uma imagem para
outra revela o enredo e sua temática.
Imagem 05 - Arte de Will Eisner
Fonte da imagem: Livro Quadrinhos e Arte Sequencial pag.
25, 1985. |
O balão é um
elemento que pode fazer parte da identidade gráfico-visual que serve de
alimento para uma HQ. Ele inclui-se na imagem que os Quadrinhos carregam em si.
O balão se faz presente em uma realidade linguístico-abstrata e concreta, seja
no encerramento de uma fala ou na conclusão de um pensamento das personagens. Ainda
sim, é possível existir Quadrinhos sem balões. Por exemplo, nos anos 30, temos Príncipe
Valente (de Hal Foster) e, na década de 90, Valentina e a Lanterna Mágica (de Guido
Crepax). Mas de forma alguma existirá Histórias em Quadrinhos sem imagens sequenciais.
Imagem 06 - Arte de Will Eisner
Fonte da imagem: Livro Quadrinhos e Arte Sequencial pag.
26, 1985. |
O Quadrinho necessita muito de uma boa
narrativa, de um bom argumento e de um bom potencial. Nas Histórias em
Quadrinhos, o 'bom' desenho, para ser considerado como tal, não precisa ser de
estilo acadêmico, tem que ser levado em conta o seu grafismo e como ele foi inserido
na narrativa. O layout das páginas tem um grande impacto junto com as técnicas
de desenho e de cores chamativas. No entanto, apesar da grande visibilidade e
atenção do trabalho artístico, a história ainda é um componente fundamental de
uma revista em quadrinhos.
Imagem 07 - 300 de Esparta, pags. 7 e 8 - Edição 5,
1999 - Editora Abril
Fonte da imagem:
http://hqultimate.com/leitor/300_de_Esparta/05 |
Para Will
Eisner, essas revistas são, em sua essência, um meio visual composto por
imagens — apesar das palavras serem elementos de vital importância. A maior
dependência para a descrição e narração está nas figuras de entendimento
universal, criadas com a clara intenção de imitar ou de exagerar a realidade.
Não é somente na estrutura intelectual que está baseada toda arte. Ela vai além
de qualquer outro elemento, e é isso que faz o trabalho perdurar.
Atualmente, os
Quadrinhos se expandiram para várias plataformas, incluindo livros e jogos. Diversos
meios de comunicação, grandes corporações e instituições de ensino no mundo
todo utilizam e reconhecem os Quadrinhos como uma poderosa ferramenta de informação.
Não é à toa que as HQs vêm se destacando através de superproduções feitas para
o cinema. Mas este é um assunto para outro dia.
Fontes:
WISNER, Will. Narrativas Gráficas. São Paulo: Editora Devir, 2005.
WISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 1985/1989.
MOYA, Álvado de. História da História em Quadrinhos. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1994.
SERPA, Dagmar; ALENCAR, Marcelo.
As boas Lições que Aparecem nos Gibis. Revista Nova Escola, Ed São
Paulo, nº 111, p. 10-19, 1998.
CIRNE, Moacy; MOYA, Alvaro; D’ASSUNÇÃO; Otacílio; NAUDIM, Aizen.
Literatura em Quadrinhos no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,
2002.
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